
Rogério estudou o uso de esgoto tratado para a irrigação em lavouras do gênero Braquiária, pasto que pode ser cultivado em qualquer lugar do país.
"Vimos o quanto que a cultura responde em rendimento. Aumentou a produtividade em 60%. E o agricultor economizou todo esse nutriente, foram mil quilos de nitrogênio e 600 kg de potássio. Cerca de R$ 2 mil por hectare. Ele produz mais com menor custo.”
O pesquisador também fez um estudo de impacto no solo, que concluiu que a cultura absorvia todo o nutriente. "Não fica no solo e ele vai pra consumo animal. Consequentemente, não polui a água subterrânea. Se economiza 50 mil litros por hectare por dia. É um aproveitamento de 100%”.
O esgoto usado na pesquisa recebeu um tratamento primário e secundário e depois passou por lagoas de sedimentação. "É um tratamento padrão para cidades. Tem tratamentos mais sofisticados, mas esse é considerado de relativamente baixo custo”, disse ele.
O uso dos dejetos tratados requer a proximidade da estação de tratamento com as plantações, mas é possível desenvolver novas estruturas em cidades pequenas e médias que ainda não tratam o esgoto .”No Brasil, 50% do esgoto é tratado. Mas isso vai aumentar com o tempo. Então o que se planeja são estações de tratamento de esgoto que sejam mais completas nas regiões mais desenvolvidas”, disse Rogério.
Outra pesquisa, feita na Unicamp, provou a mesma eficácia na cultura de cana de açúcar. "Tomamos o cuidado de que a forma de aplicação fosse enterrada, gotejamento subterrâneo. Percebemos que não há problemas de contaminação e que o produto foi muito bem em termos de nutrientes, e chegou a dobrar a produção”, disse em entrevista o professor da Faculdade de Engenharia Agrícola Edson Eiji.
"Quando você deixa de jogar esgoto no rio, você está eliminando o potencial de poluição desse rio. Pra mim, esse talvez seja o maior valor econômico que se pode tirar daí. E se você pensar que esse esgoto é composto de macro e micro nutrientes e a gente conseguiu 50% do que a planta necessitava, há uma boa economia financeira”, disse o pesquisador da Unicamp.
O que nos falta
Todos esses benefícios precisam ter aprovação legal para serem implementados. "Imagine que você tem o produto de qualidade, mas é impedido de vender porque não tem subsídios legais para a comercialização. Acho que tem uma barreira importante”, explica o professor Edson Eiji.
A Companhia Ambiental do Estado de São Paulo confirma que não há normas regulamentando a prática. "Existem, sim, normas sobre uso de efluentes de usinas e de estações de tratamento de esgotos, mas não para o uso de esgoto em uma propriedade rural, onde o produtor pretenda aproveitar o material orgânico na adubação da lavoura. Em qualquer caso, será necessário submeter um projeto à Cetesb.”
"Essa crise hídrica veio para nos educar. Ela está mostrando que o recurso hídrico não é infinito”, disse Rogério.
Fonte: G1